Redirecionamento

javascript:void(0)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Os poderes ocultos do X-Caboquinho

Depois do açaí, a nova onda de saúde a ser exportada da Amazônia para o resto do País (e quiçá do mundo!) atende pelo nome de X Caboquinho. Esse é o apelido regional de um sanduiche feito na chapa com pão, queijo e lascas de polpa de tucumã. Há numerosas variações no recheio: tem gente que acrescenta presunto ou carne, tem a versão salada e tem aqueles que preferem fatias de banana da terra, mas em nenhuma hipótese pode faltar o tucumã, a verdadeira alma desse novo lanche.
A palmeira de tucumã-do-Amazonas (Astrocaryum aculeatum) nasce em solos pobres ou degradados e resiste bem ao fogo das queimadas. É praticamente uma planta invasora, porém de grande utilidade para os ribeirinhos, pois suas fibras dão uma corda de alta qualidade; suas folhas servem para cobrir as casas; seus espinhos são usados para fazer renda de bilro; seus frutos servem para comer e as cascas do fruto, com um pouquinho de design e habilidade, transformam-se em biojoias e renda extra.
Mas a melhor notícia está muito além do nível de subsistência: o tucumã é um excelente antioxidante e também ajuda a controlar o câncer de mama, além de ter potencial contra leucemia e no controle de bactérias e fungos causadores deinfecções hospitalares, como as cepas de Candida albicans que ameaçam a vida de quem fez cateterismo e está na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Todas essas atividades estão em avaliação no outro extremo do Brasil, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul.
As pesquisas com o tucumã são orientadas, lá no Sul, pela bióloga Ivana Beatrice Mânica da Cruz, mestre e doutora em Genética e Biologia Molecular e professora na Farmacologia e na Bioquímica Toxicológica. Ela conta com a parceria à longa distância do médico especialista em Gerontologia e Saúde do Idoso da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Euler Esteves Ribeiro. Os dois coordenam esses estudos, realizados com uma equipe de 4 outros pesquisadores – dois em fase de mestrado e dois doutorandos – com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), das Fundações de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul e do Amazonas (Fapergs e Fapeam) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
“Fizemos as análises das atividades das cascas e da polpa do tucumã com extrato alcoólico, que não tem cinzas, fibras ou outros componentes que atrapalham os estudos, realizados diretamente em culturas de células”, explica Ivana da Cruz. “Apesar de usarmos o extrato em nossas análises, temos condições de chegar às doses ideais de consumo do tucumã como alimento funcional”.
Curiosamente a polpa apresenta melhor atividade do que a casca, embora a casca tenha uma concentração maior de substâncias ativas do que a polpa. Os estudos ainda estão em andamento, mas a pesquisadora já pode adiantar alguns bons resultados. Por exemplo, ao consumir 100 gramas de polpa de tucumã uma pessoa obtém três vezes mais carotenoides – substâncias precursoras da vitamina A – do que ao ingerir 100 gramas de cenoura. Obtém também uma boa quantidade de vitamina C e diversos flavonoides antioxidantes como aquercitina e a rutina.
“Fomos o primeiro grupo a identificar quercitina em tucumã”, destaca Ivana. “Os flavonoides são muito estáveis e não se perdem com a preparação do X Caboquinho ou com o transporte e a armazenagem, desde que a polpa permaneça congelada ou embalada, sem ser exposta à luz, ao calor ou ao ar (oxigênio)”.
A equipe ainda analisou a presença de substâncias prejudiciais à saúde na polpa do tucumã e considerou o fruto pouco tóxico. “Aqui cabe um alerta: normalmente se fala dos benefícios dos fitoterápicos ou dos alimentos funcionais, mas não se fala na dose certa daquele princípio ativo. E qualquer coisa em excesso faz mal, até água. Assim, é preciso avaliar sempre a dose indicada”, adverte a especialista em Biologia Molecular.
Ela prossegue nas explicações: “Todos nós precisamos de oxigênio e glicose para viver. Nós obtemos nossa energia através da oxidação. Porém, cerca de 5% do oxigênio vira radical livre em nosso organismo. É como se o oxigênio ficasse desbalanceado após perder alguns elétrons e se associasse a qualquer molécula disponível, “enferrujando” as células. Em geral, a associação é com macromoléculas de gordura e causa modificações estruturais em nossas células, dando origem a mais de 200 tipos de doenças”.
Quando ingerimos substâncias antioxidantes em nossa alimentação, no entanto, essas substâncias “correm” para se ligar aos radicais livres e, assim, mantém o equilíbrio do organismo. Os antioxidantes protegem as células dos “ataques” dos radicais livres e mantêm as funções celulares por mais tempo. Ou seja, além de retardar o envelhecimento, os antioxidantes ajudam a prevenir diversas doenças associadas ao estresse oxidante.
Fotos: Liana John (frutos de
tucumã maduros e cachos verdes)
“Mas não adianta correr na farmácia para comprar altas doses de vitamina C ou de suplementos antioxidantes”, continua a pesquisadora. “Se a pessoa não está praticando exercícios de alto rendimento, se não está doente e quer apenas prevenir a ação dos radicais livres, é melhor garantir uma dieta equilibrada, optando sempre pela variedade de frutas ingeridas como alimento, um pouco de tucumã por dia nesta semana, um pouco de açaí na próxima. Sempre em sucos ou nas refeições, pois antioxidante demais também tiram o equilíbrio do organismo. Alguns radicais livres são necessários para algumas funções, nem todos devem ser eliminados”.
Atenção, portanto, gulosos de plantão: quando o X Caboquinho chegar à lanchonete mais próxima podem apostar no poder oculto do tucumã contra os sinais de velhice e estresse. Mas nada de exagerar: nem um cacho inteiro de tucumã faz o relógio voltar para trás!

Nenhum comentário:

Postar um comentário