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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Tablets no ensino podem ser revolução ou ilusão

Recentemente, o Governo revelou os seus planos para equipar os estudantes brasileiros com tablets. Citaram o projeto de aquisição de centenas de milhares de dispositivos para reforçar o sistema de ensino público, projetando investimentos significativos em infraestrutura.

Embora o anúncio deixe todo mundo animado com as perspectivas, ainda é necessário debater os desafios que surgem com a inserção de uma tecnologia tão avançada nas instituições de ensino.

Além da necessidade de entender as reais oportunidades oferecidas, o impacto efetivo deste dispositivo na qualidade da educação vai depender dos aplicativos que serão desenvolvidos e da capacidade do sistema educacional brasileiro em absorver, de maneira sustentável, tamanha inovação.

A oportunidade de usar as tablets em escala como dispositivos educacionais é recente, pois, se apoia em um tripé de evoluções que, aos poucos, se tornaram viáveis financeiramente.
Usabilidade

O primeiro elemento é a usabilidade. A partir de 2010, foram concebidos sistemas operacionais específicos que, junto com as melhorias do hardware, tornaram esses dispositivos surpreendentemente fáceis de usar. Virou tão simples e intuitivo, que até uma criança de três anos consegue ligar e acessar um programa sem a mínima orientação.
Acesso à web

O segundo ponto que faz a diferença é a hiperconectividade das tablets, que são realmente aproveitadas quando conectadas à internet. Oferecer tablets sem se preocupar com o acesso à web seria como distribuir o papel sem a caneta.
Aplicativos

O último ponto e, provavelmente, o mais efetivo no contexto educacional, é a riqueza de aplicativos específicos ao qual eles dão acesso, pois, são estes pequenos programas que definem o real potencial dos dispositivos.

As tablets constituem uma pequena revolução na relação do homem com o computador, trazendo mobilidade, conectividade e versatilidade a usuários que, muitas vezes, nem estavam inseridos no mundo digital. Pesquisar na internet, participar de redes sociais, instalar um novo programa, ou assistir a um filme, se resume a tocar duas vezes na tela. Tanta facilidade deixa qualquer um desconcertado.

A grande questão para a generalização das tablets nas escolas está nas modalidades de uso, que dependerá tanto dos dispositivos quanto dos aplicativos e conteúdos aos quais elas darão acesso. O desafio das editoras e dos provedores de tecnologias educacionais está na concepção de programas que promovem a interação do aluno com o dispositivo, com outros alunos, com os professores etc.
O que melhora o aprendizado

O consumo de informação não é suficiente para a aprendizagem e os mecanismos de produção serão determinantes para definir o que os estudantes aprenderão com eles. Todas as pesquisas recentes apontam: o que realmente melhora o aprendizado não é a tecnologia em si, mas as possibilidades que ela oferece para que o aluno aprenda a construir os seus conhecimentos.

Este ponto é crucial, pois, estamos em uma área de abundância de informação e a capacidade de selecionar, sintetizar, compilar e produzir é bem mais relevante que a capacidade de buscar, que está em crescente automatização.

Finalmente, o ponto crucial a ser debatido é como o sistema educacional pode garantir uma melhoria qualitativa da aprendizagem dos alunos com uma tablet. A escola segue programas e tem um ambiente relativamente controlado, baseado na interação entre professores, corpo administrativo e alunos.

Fornecer acesso à internet aos alunos abre um universo de possibilidades que tem que ser canalizado, pois, sem planejamento seria como deixar as crianças na frente de uma mesa cheia de brigadeiros e refrigerantes e acreditar que elas terão uma alimentação saudável.
Capacitação de professores

Mais uma vez, a capacitação dos professores no uso dessas tecnologias é a pedra angular de todo dispositivo. Eles devem, antes de tudo, descobrir como usar os aplicativos e inseri-los nas rotinas dos alunos de maneira pertinente. Quando estes chegarem à idade adulta, com certeza, lembrarão mais do cuidado, da atenção e do empenho que os professores tiveram em ensiná-los do que dos detalhes de um dispositivo que, até lá, estará ultrapassado.

Concluindo, não podemos esquecer que o propósito da educação é desenvolver os talentos individuais e a capacidade de colaboração dos estudantes, criando condições para uma sociedade mais justa, equilibrada e sustentável.

O Brasil está ocupando uma posição de destaque promissora em um cenário mundial turbulento e os governos, assim como as instituições de ensino e as próprias empresas têm a enorme responsabilidade de criar e disseminar conhecimentos diferenciados para a população.

Neste cenário, as oportunidades oferecidas pela tecnologia devem ser aproveitadas. No entanto, vale lembrar que a tecnologia precisa se manter a serviço de propósitos maiores, que farão com que os alunos respondam aos desafios futuros, inspirados pela diversidade da cultura brasileira.

Afinal, como ressaltou William Gibson, autor de ficção científica: “O futuro já está aqui, ele só não está bem disseminado ainda.”

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