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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cientistas desvendam mistérios de florestas fossilizadas na Antártida

Cientistas que estudam fósseis de plantas e animais encontrados na Antártida descobriram que esses seres possuíam mecanismos sofisticados que lhes permitiam sobreviver vários meses no escuro.

Segundo teorias, no período em que essas criaturas viveram, cem milhões de
anos atrás, a Terra estava à beira de um aquecimento extremo.

As calotas de gelo que tinham coberto os polos haviam praticamente
derretido, permitindo que amplas florestas crescessem no local.

Hoje, com o aumento nas médias de temperatura registradas no Continente
Antártico, os cientistas não descartam a possibilidade de que plantas voltem a florescer na região.

Passado Sub-Tropical


Uma das primeiras pessoas a encontrar evidências de florestas antárticas foi
o conhecido explorador britânico Robert Falcon Scott.

Retornando do Polo Sul em 1912, ele encontrou fósseis de plantas na geleira
Beardmore.

O peso adicional dos espécimes pode ter contribuído para a sua trágica morte
(Scott morreu congelado dias depois de alcançar o Polo Sul), mas revelou ao mundo o passado sub-tropical do continente.

A pesquisadora Jane Francis, da Universidade de Leeds, no norte da
Inglaterra, seguiu os passos de Scott, passando dez temporadas na Antártida coletando fósseis de plantas.

"Ainda acho incrivelmente fascinante a ideia de que a Antártida foi um dia
coberta de florestas", disse Francis à BBC.

"Temos como certo que a Antártida sempre foi uma vastidão gelada, mas as
calotas de gelo são, em termos de história geológica, relativamente recentes".

Uma das mais incríveis descobertas da cientista foi feita nas Montanhas
Transantárticas, não muito longe de onde Scott encontrou seus fósseis.

"Estávamos no alto dos picos gelados quando encontramos uma camada de
sedimento cheia de folhas frágeis e gravetos".

Mais tarde, a equipe descobriu que esses fósseis eram restos de arbustos de
faia (árvore típica de climas temperados).

Com idade em torno de cinco milhões de anos, os arbustos estavam entre as
últimas plantas a viver no continente antes do seu resfriamento.

Outros fósseis revelam que florestas verdadeiramente subtropicais existiram
na Antártida em períodos anteriores, durante a chamada "era dos dinossauros", quando níveis muito mais altos de gás carbônico provocaram um período de aquecimento global extremo no planeta.

"Se você voltar cem milhões de anos no tempo, a Antártida estava coberta de
florestas (de árvores) altas, semelhantes às que existem hoje na Nova Zelândia", disse à BBC Vanessa Bowman, colega de Francis na Universidades de Leeds.

"Encontramos com frequência troncos fossilizados que devem ter vindo de
árvores muito grandes".  
Longas Noites


Para os especialistas, a característica mais intrigante e bizarra das
florestas polares era sua capacidade de sobreviver a longos invernos, onde a noite dura meses, e aos verões sem fim, quando o sol brilha à meia-noite.

O cientista David Beerling, da Universidade de Sheffield, no norte do país,
explica qual foi o desafio que essas espécies tiveram de enfrentar:

"Durante períodos prolongados de escuridão no inverno quente, as árvores
consomem seu estoque de nutrientes", ele disse. Mas se isso continua por tempo muito longo, elas vão acabar "passando fome", disse Beerling à BBC.

Para entender como as árvores sobreviveram a essas condições extremas,
Beerling fez um experimento.

Entre as plantas que um dia viveram na Antártida está a espécie Ginkgo
biloba, que por viver até hoje é considerada um fóssil vivo.

"O que fizemos foi plantar mudas dessas plantas em estufas sem luz onde
pudemos simular as condições de luz da Antártida".

"Também aumentamos a temperatura e as concentrações de CO2 para obter as
mesmas condições".

O experimento demonstrou que as árvores podem sobreviver incrivelmente bem a
esse ambiente estranho. Embora usem seus estoques de alimento no inverno, elas compensam as perdas porque são capazes de fazer a fotossíntese 24 horas por dia no verão.

Dinossauros no escuro


Outros fósseis encontrados mostram que dinossauros também habitaram a
região.

O especialista em dinossauros Thomas Rich, do Victoria Museum, na Australia,
encontrou vários exemplares desses fósseis.

"O único esqueleto de dinossauro completo que encontramos (na região) é o
Leaellynasaura. O que é realmente incomum sobre esse espécime é o crânio. Ele indica que o animal tinha lóbulos ópticos maiores", ele explicou.

Segundo o especialista, isso indica que os dinossauros polares podem ter
possuído uma visão noturna extremamente desenvolvida e, portanto, estavam bem adaptados para encontrar alimento e sobreviver aos prolongados invernos antárticos.

Antártida Esmeralda

Hoje, lençóis de gelo com espessura de três quilômetros cobrem uma região
que um dia foi habitada por florestas e dinossauros.

Entretanto, registros geológicos oferecem provas irrefutáveis de que, em
toda a história do planeta, vêm ocorrendo flutuações dramáticas no clima do Polo Sul.

Nos últimos 50 anos, a temperatura na Península Antártica subiu em torno de
2,8 ºC, um aquecimento mais rápido do que em qualquer outra parte do mundo.

Se esse aquecimento continuar, os cientistas não descartam a possibilidade
de que o Continente Antártico volte a ter a cor verde esmeralda.

"Isso é possível", disse Francis à BBC. "Entretanto, isso implica que
espécies de plantas sejam capazes de migrar pelo Oceano do Sul, vindas de lugares como a América do Sul ou a Austrália". 

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