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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Linha de clonagem


Pesquisadores da USP, UFPA e Unopar querem implantar no município de Tamarana, PR, uma "fábrica" de bezerros com capacidade para produzir dez cópias por mês


 

Os primeiros sons que Irã 10 ouviu foram gritos como "reflexo de sucção!" e "girar, girar!". Nascido no último dia 14 de novembro, o bezerrinho Irã 10 é um clone. Veio à luz com a ajuda de cientistas comandados por ordens típicas de uma unidade médica de cirurgias e requer cuidados especiais para sobreviver. Até a vaca que "emprestou" o útero foi selecionada por seu histórico de tranquilidade. "Qualquer grande exercício que a mãe faça antes do parto pode causar deficiência de glicose no feto. O ideal é uma receptora de embrião mais calma", conta a professora Maria Angélica Miglino, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP).

Maria Angélica, junto com outros pesquisadores da USP e da Universidade Federal do Pará, faz parte do projeto desenvolvido na fazenda experimental da Universidade Norte do Paraná (Unopar), em Tamarana, PR, que busca tornar a clonagem prática rotineira, como uma linha de montagem. Com investimentos de R$ 2,5 milhões, o centro de estudos não é único no Brasil (há uma iniciativa semelhante em Uberlândia, MG), mas tem alcançado resultados melhores que laboratórios comerciais. A vantagem está em perpetuar um animal de ótimo desempenho, copiando-o e, se possível, aprimorando seus genes.

Segundo Paulo Roberto Adona, professor da Unopar e coordenador do programa, bezerros comuns da raça girolando nascem com no máximo 45 quilos. No caso de clones como Irã 10 — a décima cópia do girolando Irã, falecido no começo de 2010 —, o peso ao nascer pode chegar aos 52 quilos. Esse ganho, também frequente em fertilizações in vitro, não se estende necessariamente à idade de abate. O parto é feito por meio de cirurgia cesárea, por causa do maior porte do bicho e ainda para prevenir contra falhas genéticas e imunológicas, além de ajudar a anular problemas fatais causados por más formações umbilicais, comuns em clones de bovinos.

Das 25 transferências de embriões (frutos da fusão entre uma célula do clonado, geralmente retirada da pele, e um óvulo sem núcleo) realizadas com material de Irã, 13 deles foram gestados, nove nasceram e três sobreviveram. Se Irã 10 viver mais de dois meses, será o quarto clone de sucesso no ano na fazenda. Como comparação, a clonagem de bovinos costuma registrar entre um e cinco nascimentos a cada 100 tentativas. O próximo passo é manipular geneticamente os bezerros para que nasçam termotolerantes, com maior resistência a altas temperaturas, característica desejada em regiões tropicais. E, a partir de janeiro de 2011, manter um ritmo de dez nascimentos de clones por mês. O custo de cada cópia, segundo a professora Maria Angélica, vai de R$ 250 mil a R$ 300 mil.

por José Gabriel Navarro

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