Redirecionamento

javascript:void(0)

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Farmacêuticas fecham centros de pesquisa em Alzheimer e Parkinson

A farmacêutica suíça Novartis vai seguir o caminho dos laboratórios britânicos GlaxoSmithKline e AstraZeneca e fechará em breve a unidade de neurociência em Basileia, onde fica a sede da empresa. Em 2010, as duas multinacionais inglesas encerraram atividades de pesquisa para novos tratamentos de doenças cerebrais.

Os centros fechados estudavam tratamentos para problemas como depressão, Alzheimer, Parkinson, psicoses e transtornos de humor, entre outros.

A estratégia de mudar a direção dos investimentos ocorre após essas farmacêuticas investirem pesado em uma área que envolve alto risco e requer anos de estudos e testes clínicos em animais e humanos para obter resultados e remédios com segurança e eficácia comprovadas.

Segundo o psiquiatra Mauro Aranha, do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), é natural que os laboratórios revejam suas linhas de financiamento.

“Eles trabalham dentro de uma lógica de mercado, e as novas descobertas de psicotrópicos não acrescentam muito às drogas tradicionais, que são muito boas e mais baratas que as modernas”, diz.

Segundo Aranha, os medicamentos mais eficazes para tratar transtornos de humor, depressão e psicoses, por exemplo, são das décadas de 1950 e 1960. É o caso do carbonato de lítio, da imipramina, da clomipramina e da clorpromazina. “Eles são excelentes ainda hoje, com efeitos colaterais mais suaves que os recentes”, acrescenta.

O psiquiatra destaca, porém, que os governos precisam ter métodos de controle de vigilância sanitária para que os laboratórios não tirem do mercado os remédios que são eficazes e baratos.

“O fato de as farmacêuticas acabarem com pesquisas a gente até pode aceitar, mas descontinuar o que já existe e é de interesse público, não”, afirma.

Esse foi o caso da piridostigmina, contra miastenia grave (doença que causa fraqueza muscular), que saiu das prateleiras das farmácias e depois voltou.

A neurologista Elza Tosta, presidente da Academia Brasileira de Neurologia, diz que o impacto dessa estratégia das farmacêuticas pode ser grande, porque atualmente todos os grandes estudos na área são feitos pela indústria.

“Deveria haver uma maior presença do governo e parcerias com as universidades. Entendo que a indústria tenha que ver o lucro dela, mas é preciso repensar as políticas”, ressalta.

Aranha concorda: “As universidades públicas deveriam ser providas pelo Estado para não dependermos tanto das farmacêuticas na fabricação de novos medicamentos.”

Elza cita que nos EUA as universidades trabalham em pesquisas de forma paralela e independente dos laboratórios.

Pesquisa intensa

A médica afirma que, nos últimos 20 anos, tem havido ampla pesquisa sobre as doenças do sistema nervoso central, com uma excelente relação custo-benefício, já que problemas degenerativos, como o Alzheimer, não param de crescer com o envelhecimento da população.

“Ainda não há um medicamento 100% eficaz. Precisamos de mais prevenção e, enquanto muitas doenças não puderem ser evitadas, de mais poder curativo, com drogas eficientes”, diz.

Outro problema, na opinião dela, é o alto custo dos remédios contra doenças neurológicas, cognitivas e psiquiátricas. “E não é pela carga de impostos, é porque os estudos e testes são muito caros e podem levar décadas para darem certo”, comenta.

Segundo Aranha, os transtornos mentais são tratados com basicamente quatro grupos de medicamentos: antidepressivos (contra depressão, síndrome do pânico, transtorno obsessivo- compulsivo, estresse pós-traumático e fobias sociais), estabilizadores de humor (contra transtorno bipolar e outros), antipsicóticos ou neurolépticos (contra esquizofrenia e transtornos de impulso ou agressividade) e ansiolíticos ou tranquilizantes (contra ansiedade e insônia).

A versão das farmacêuticas

Segundo nota da Novartis, após o fechamento da unidade na Basileia, as pesquisas em neurociência vão ser centradas nos componentes genéticos das diferentes doenças e serão realizadas na região de Cambridge e Boston, nos EUA.

O laboratório também pretende se concentrar mais na área molecular e de desenvolvimento humano. Mais tarde, a empresa quer estudar doenças autoimunes, inflamações e transplantes. Programas clínicos já previstos ou em andamento não serão prejudicados, de acordo com a nota.

Também via assessoria, a GlaxoSmithKline informa que vai manter os investimentos em pesquisa e desenvolvimento no campo da neurociência, apesar do encerramento das atividades no centro de Verona, na Itália.

Atualmente, o laboratório britânico mantém estudos sobre doenças como esquizofrenia, depressão, ansiedade, distúrbios do sono e epilepsia. Este ano, a empresa deve solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a aprovação de 12 novos produtos voltados para o tratamento dessas doenças no Brasil. Hoje, a GlaxoSmithKline comercializa nove produtos no país com essa finalidade.

Ainda segundo a nota, a farmacêutica fechou no ano passado um acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para apoiar projetos de pesquisa, capacitação de profissionais e co-investimentos iniciais de até R$ 3 milhões. Além disso, estuda doenças negligenciadas, como a malária, e novos antibióticos contra bactérias resistentes.

De acordo com a AstraZeneca, as pesquisas canceladas são especificamente no campo da psiquiatria, e há um empenho para desenvolver novos tratamentos em neurociência. Hoje, o laboratório tem dez medicamentos no mercado, entre anestésicos, antipsicóticos e remédios contra enxaqueca.

A empresa diz que também concentra estudos em fase 2 para o tratamento de doenças como Alzheimer, Parkinson, dor crônica e depressão. E seu foco são principalmente drogas contra problemas infecciosos, gastrointestinais, cardiovasculares, respiratórios e oncológicos.

Via G1




Nenhum comentário:

Postar um comentário