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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Porque faz tanto calor?

A cada começo de verão se repete o noticiário. É sempre o começo de verão mais abrasador dos últimos anos. Se procura associar o calor ao aquecimento global.

Nós temos certeza que existem fenômenos ocorrendo, no aquecimento do planeta. E que estes fenômenos tem ligação certa com fatores antrópicos e fatores geológicos naturais. Não temos dados para afirmar o quanto é influência de cada um destes fatores, mas é possível afirmar sem medo de errar que ambos os fatores influem nesta ocorrência.

Mas a previsão é que ocorram elevações de 1 ou 2, dependendo dos níveis de CO2, até mesmo 3 ou 5 graus nas temperaturas médias em intervalos de tempo muito grande, de forma que a incidência fenomenológica será sentida mais pelas suas conseqüências sobre disponibilidade hídrica e movimentos de população e outras mudanças, do que propriamente pela temperatura.

O aquecimento global e as conseqüentes mudanças climáticas e suas conseqüências sobre a vida das populações, principalmente as populações de baixa renda que tem menos recursos de auto-proteção é um fato pouco contestável.

Mas é honesto dizer também que está sensação de calor que nos acompanha a cada chegada de verão, muito provavelmente não tenha relação direta com o aquecimento global. Embora possa ser até mesmo um pouco pedagógico ressaltar este pânico diluído que ocorre. Mas não é honesto.

A média das temperaturas acima de 35 ou próxima a 40 é sempre desconfortável e incomoda para as populações humanas. Mas é e sempre foi comum em grandes porções do país. Talvez influenciada por oscilações sobre a umidade relativa do ar, devido a outros fenômenos climáticos, esta sensação seja mais desagradável ainda.

Gases como metano, dióxido de carbono e óxido nitroso, os chamados Gases de Efeito Estufa (GEE) formam uma espécie de telhado invisível ao redor do globo, como se fossem o teto de uma estufa de produção de flores ou hortifrutigranjeiros.

A radiação eletromagnética proveniente do sol, que entra em baixos comprimentos de onda e altas frequências e deveria sair em altos comprimentos de onda e baixas freqüências tem dificuldades de retornar ao espaço em volume adequado e causa um sobre aquecimento da terra, pois retorna para a atmosfera na forma de raios infra-vermelhos.

Ao encontrarem os gases de efeito estufa que funcionam como uma espécie de teto não visível, faz com que uma parte importante dos raios infra-vermelhos que deveria retornar para o espaço acabe sendo absorvida pelas moléculas dos gases, sendo enviada novamente em direção à superfície da terra, que é então novamente aquecida e podemos dizer sobre-aquecida.

Este fenômeno é importante na manutenção da temperatura da terra e na existência de vida, mas não pode ser potencializado acima do limite natural, como ocorre com os gases de efeito estufa.

Os gases de efeito estufa ajudam a aumentar a temperatura da terra e em alguma medida devem ter alguma influência na sensação de abafamento que aumenta a cada estação quente. A gente pode ter dúvidas sobre o quanto as alterações climáticas são efeito da natureza e quanto é devido à poluição antrópica. Mas que a poluição devida à ação humana existe, isto é indubitável. Os gases de efeito estufa estão se acumulando fazem 30 anos ou mais, de alguma forma este fenômeno acompanha a revolução industrial.

Que este fenômeno de concentração de gases gera um sobreaquecimento na terra, não se observam opiniões discordantes notórias. As estimativas indicam que conforme aumentar ou não a concentração de CO2, as temperaturas até o ano de 2.100 pode aumentar em uma dimensão que varia de 1 a 4 graus, conforme o trabalho que serve de fonte, seja o IPCC o outra fonte.

O aquecimento acima das necessidades da terra e acima das expectativas provoca uma grande variabilidade climática no globo terrestre. Correm descongelamento de geleiras, elevação dos níveis dos mares, alterações nos regimes atmosféricos por causa das mudanças nos gradientes térmicos, formação de tempestades, ciclones e tufões em áreas antes livres destes fenômenos.

A ocorrência do fenômeno conhecido como “El Niño” também auxilia a produzir um aquecimento nas condições climáticas, embora o fenômeno tenha uma ocorrência moderada. Todo este conjunto de situações gera uma inconsistência climática que foge dos padrões regulares para os quais as previsões funcionam, pois os modelos em que estas previsões operam também funcionam. Mas dentro da inconsistência climática instalada as previsões perdem sentido e as irregularidades passam a ser o padrão, tamanha a quantidade de fatores intervenientes que estão fora de controle ou de projeções lógicas.

O que ocorre mesmo é o aumento da variabilidade climática, que é interpretado pela maior parte dos pesquisadores como sendo um sintoma de aquecimento global. Mas mesmo que fosse esfriamento global, como pensa a outra parte dos cientistas, o fato é que estamos vivendo uma fase de intensa inconsistência climática, marcada pela notável visão da imprevisibilidade do clima.

Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

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