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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Cidades ligadas na agroenergia

Diariamente, milhões de brasileiros executam o mesmo movimento de acender e apagar as luzes em suas residências ou locais de trabalho, sem pensar de onde vem a energia. Da mesma forma, motoristas abastecem seus carros sem conhecer o processo produtivo do etanol, enquanto donas de casas e consumidores utilizam açúcar para adoçarem sucos, cafés e sobremesas.

Enquanto isso, no campo, usinas espalhadas por todo o País além de fabricarem o açúcar e o biocombustível, produzem também a eletricidade a partir do bagaço da cana, uma sobra do processo de fabricação do etanol. “Esse bagaço, queimado, gera vapor, que é transformado em energia”, explica Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica).

Além disso, o que antes era considerado resíduo, agora é reaproveitado e gera renda. Atualmente, 100% das 438 usinas do País produzem energia para abastecer suas operações. Dessas, 129 já geram excedente, que é vendido nos leilões públicos e representam cerca de 3% do consumo nacional. Essa porcentagem representa cinco milhões de residências, onde vivem cerca de 20 milhões de pessoas.

Já a palha, que começa a ser utilizada pelas usinas, tem capacidade de geração de energia 50% superior à do bagaço. “Com as duas, até 2020, temos potencial para responder por 15% do consumo no Brasil”, explica Souza. Esse percentual corresponde a três vezes a capacidade da futura Usina de Belo Monte.

Estima-se que para produzir energia a partir dos resíduos da cana, sejam necessários investimentos de cerca de US$ 150 milhões por usina, na aquisição de maquinário para o processamento da palha e do bagaço, sem necessidade de desmatamento, com reduzido impacto ambiental.

“É a grande oportunidade e também um desafio para o Brasil se posicionar não só como produtor de etanol, mas também de energia limpa”, disse Luiz Carlos Corrêa Carvalho, vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), durante palestra no lançamento do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) em setembro.

Como a colheita da cana é feita nos meses de estiagem, quando os níveis de reservatórios das hidrelétricas estão em baixa, a geração de energia nas usinas de cana seria a saída ideal para complementar o fornecimento para todas as regiões do Brasil, diminuindo os riscos de apagões. Além disso, seu baixo impacto ambiental, já que é instalada na mesma área das usinas e produz a partir de resíduos da fabricação do etanol, a caracteriza como uma fonte limpa de energia.

O aumento na produção de energia elétrica a partir do bagaço e da palha da cana, também significa mais combustível no mercado. Isso porque a correlação entre bioeletricidade e etanol é próxima a um. “Se aumentarmos a produção de energia, consequentemente, aumentaremos a de etanol”, explica Souza.

Canaviais em baixa

Apesar do potencial de geração energética da cana-de-açúcar, os produtores brasileiros amargam três safras em que a produtividade ficou aquém de suas expectativas e das do mercado. A estimativa é de que a safra atual (2011/12) alcance 490,38 milhões de toneladas de cana. Entre os principais motivos para essa queda estão variações climáticas e o envelhecimento dos canaviais, que receberem pouco investimento nos últimos anos.

“Se houver melhora na próxima safra, será muito pequena. Acho que a safra 2013/14 será de transição e só depois disso teremos aumento no volume colhido”, disse o economista Plínio Nastari, diretor da Consultoria Datagro, durante o fórum promovido pela empresa, nos dias 21 e 22 de novembro, em São Paulo (SP).

Para Manoel Vicente Bertone, Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a produção de açúcar, etanol e bioenergia estão diretamente ligadas aos canaviais. “Não teremos nada disso se não tivermos uma pujante produção de cana.”

Ele falou durante o evento da Datagro, juntamente com o deputado Antônio Duarte Nogueira, para quem a retomada de crescimento do setor depende de investimento governamental e incentivo para que os produtores possam investir em tecnologia e na renovação dos canaviais. “Temos o maior projeto de biocombustíveis do mundo, viável, por ser ambientalmente correto, ter área para cultivo e abertura de mercado. Temos que investir no setor” afirmou Nogueira.

Ele também defendeu uma redução na taxação sobre o etanol e o biodiesel na bomba. “Nos Estados Unidos, o etanol não é taxado. Por que não podemos baixar o tributo ao etanol, frente à sua importância para o Brasil?” Na opinião de Ismael Perina Júnior, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul (Orplana), é preciso haver uma sinergia entre toda a cadeia produtiva, para que os desafios sejam superados em conjunto, a fim de retomar o crescimento do setor.

Para William Burnquist, gerente geral da Ceres no Brasil, o País não está acompanhando o ritmo do mercado, que se desenvolve muito mais rápido do que a capacidade do setor em produzir e inovar. “Com o crescimento da classe média, tivemos um aumento acelerado na venda de carros e consequentemente de combustíveis.”

Alternativas

Burnquist também mostrou o potencial que o sorgo tem como uma cultura complementar à cana na produção de etanol. Segundo o executivo, testes vêm mostrando a eficácia da planta na produção do combustível, justamente nos meses de entressafra da cana.

“É uma cultura de ciclo mais curto, que possibilita a colheita já em 120 dias”, explicou. Ele enfatizou também que para produzir etanol a partir do sorgo, não há necessidade de investimentos na estrutura da usina, já que ele pode ser processado nas mesmas máquinas por onde passa a cana.

Para José Goldemberg, ex-ministro do Meio Ambiente e diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), o etanol de segunda geração é essencial para atender à crescente demanda de mercado. Ele acredita que o uso dessas fontes estará mais amadurecido dentro de dez anos. “Até lá, poderemos desenvolver novas tecnologias e testar o uso de outras matérias-primas.”

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