No dia 22 de abril, uma nova referência de índios isolados foi encontrada dentro da Terra Indígena (TI) Vale do Javari, no oeste do Amazonas. A descoberta foi feita em sobrevoo de monitoramento realizado pela Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Diretoria de Proteção Territorial da Fundação Nacional do Índio (Funai), com o apoio da ONG Centro de Trabalho Indigenista (CTI). Foram localizadas duas clareiras com roçados – plantações de milho, mandioca e banana – e duas grandes malocas.
Segundo Carlos Travassos, coordenador da CGIIRC, não é possível saber ao certo a qual povo eles pertencem ou se são um subgrupo de um povo maior. Ele prefere não dar estimativas, mas pelo tamanho da maloca o número pode chegar a 100 pessoas. As características são semelhantes às de povos da família linguística Pano, como os Korubo, grupo isolado já confirmado.
O antropólogo e coordenador geral do CTI, Gilberto Azanha, ressalta a importância de algumas informações para identificar determinado grupo, “entre elas a região que habitam e suas estratégias de fuga”. Ele explica que esses são indígenas isolados mais por conta da sua localização, de difícil acesso, do que culturalmente, pois sabem da existência dos brancos e mantêm contato com outros povos por meio da troca.
Com o reconhecimento da presença desses povos, o órgão responsável obtém mais informações e, assim, pode dar sequência ao processo de regularização fundiária e às devidas ações de proteção. Há quem pense que esse é um trabalho “isolado”, assim como os povos a quem contempla, mas ele faz parte da rotina da Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e de outras 11 Frentes na Amazônia brasileira.
Azanha defende políticas diferenciadas para os isolados, mas proteção em mesmo grau a todos os povos indígenas. “A importância deles para o país e para a conservação do meio ambiente é a mesma e o cuidado também deve ser”, diz.
A política indigenista hoje
O processo de proteção a esses povos é dinâmico e tem como pilar ações sistemáticas de localização, monitoramento e vigilância. O objetivo é investigar características de ocupação e acompanhar as dinâmicas territoriais, que irão apontar as necessidades de maior cuidado.
Oficialmente hoje há 77 referências de isolados registradas pela CGIIRC, sendo 23 confirmadas. De acordo com Travassos, “quanto mais se procura por povos isolados para proteger, mais se encontra”. As informações sobre vestígios chegam principalmente do monitoramento, mas também de outros povos indígenas, ribeirinhos, viajantes e antropólogos.
Segundo o coordenador, as principais ameaças aos isolados são conflitos fundiários, a ação de missionários, extração de madeira, garimpo, caça e pesca ilegais, exploração agropecuária e também, na região de fronteira, a atividade petroleira vinda do Peru.
Antes da Constituição de 1988, a política indigenista da Funai promovia o contato e buscava sua gradativa "integração" à sociedade nacional. Em geral, essa aproximação era seguida pela proliferação de doenças, significativo decrescimento populacional e a apropriação de suas terras por frentes de colonização.
Daquela fase até os dias de hoje há grupos que nunca se recompuseram. Como exemplo, Azanha cita o massacre em Corumbiara, Rondônia, do qual restou apenas um único sobrevivente. “Hoje a Funai não promove mais o contato, a não ser que este seja buscado pelos próprios índios ou que a situação seja de extrema vulnerabilidade – ameaça iminente de extermínio do grupo”, explica Carlos Travassos.
Nathália Clark
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