Cerca de sete mil espectadores lotaram a Praça dos Três Poderes, em Iranduba, a 20 quilômetros da capital, no último sábado (07/05), para assistir ao primeiro espetáculo do XV Festival Amazonas de Ópera (FAO) levado ao município pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (SEC). Aberta ao público, “Soror Angélica”, do compositor italiano Giacomo Puccini (1858-1924), foi a quinta ópera já levada ao interior do Estado, desde 2003, através do festival.
O evento foi aberto pela primeira-dama do Estado, Nejmi Aziz, que reafirmou o compromisso do Governo Estadual em manter a tradição de promover grandes espetáculos nas cidades do interior. “Eu e o governador Omar Aziz estamos muito felizes que uma das óperas mais conhecidas do mundo tenha chegado até vocês. Ópera é cultura e isso também é essencial para o desenvolvimento do nosso Estado”, disse.
Com aproximadamente uma hora de duração, “Soror Angélica” foi regida pelo diretor musical do XV FAO, maestro Luiz Fernando Malheiro. No palco, o drama de uma freira e sua vida no convento foi reproduzido por 55 artistas locais, entre instrumentistas da Orquestra Experimental da Amazonas Filarmônica e do Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro; e cantores líricos do Coral do Amazonas.
Para a violinista mais jovem da Orquestra Experimental da Amazonas Filarmônica, Kimberly Alves, de 16 anos, a experiência de levar o trabalho além do âmbito da capital é considerada um privilégio. “Em menos de um ano na orquestra, já pude viajar duas vezes: à Argentina, no ano passado, e, agora, Iranduba. É uma grande responsabilidade e satisfação expandir nossa música e o apoio do Governo não poderia ser maior”, enfatizou.
Aos 70 anos e sentada na primeira fila da platéia, a aposentada Maria Tereza Araújo – que chegou ao local com quatro horas de antecedência para garantir uma visão privilegiada da apresentação –, se emocionou a cada ato da peça. “Saí cedo de casa porque sempre quis ver uma ópera de perto. Só via pela televisão. Foi uma oportunidade única e meu esforço valeu muito a pena, foi inesquecível”.
Já a dona de casa Zumira Costa, 50 anos, é admiradora antiga da música erudita e esteve presente à ocasião na companhia de toda a família. “Costumo ir a Manaus na época desse festival e, quando soube iria ter uma apresentação aqui, em Iranduba, fiquei muito feliz. Ópera é algo muito profundo e todos devem conhecer. Com essa chance que o nosso Governo está dando, espero que todos se envolvam como eu”, afirmou.
A montagem de “Soror Angélica” tem duas apresentações agendadas dentro da programação do XV FAO. Em Manaus, a próxima será no dia 15, às 19h, no Centro de Convivência da Família Padre Vignola, no bairro Cidade Nova; e a última em 21 de maio, às 20h, no Centro de Convivência do Idoso, no bairro Aparecida. O encerramento do festival ocorrerá no dia 29 de maio, no Largo de São Sebastião
Interiorização
Em sua 15ª edição, o FAO do Governo do Estado desenvolve uma política de popularização da cultura em todo o Estado, ao levar números de canto lírico para as populações interioranas. Obras desse gênero já tiveram montagens executadas, com sucesso de público, nos últimos oito anos, em Itacoatiara, Manacapuru, Rio Preto da Eva, Novo Airão e, este ano, em Iranduba.
“Fazemos um esforço para que todos os nossos festivais de grande porte possam chegar ao interior. É sempre um prazer enorme e, ao mesmo tempo, uma ‘operação de guerra’ porque montamos a mesma estrutura de Manaus”, destacou a diretora de eventos da SEC, Elizabeth Cantanhede. Segundo ela, mais de 300 pessoas estiveram envolvidas na operacionalização de “Soror Angélica” em Iranduba.
Acerca da receptividade do público, Cantanhede relata que as experiências tiveram resultados positivos e acima do esperado pela organização. “Tem pessoas que assistem pela primeira vez e elas aprendem a gostar, a conhecer e até a discutir ópera. É espetacular porque não é só prestigiar, é entender e participar do festival. Vemos isso quando a população ri na hora certa, aplaude na hora certa”.
A diretora de eventos ressalta, ainda, que é prioridade do Governo do Estado a promoção de um intercâmbio cultural entre a capital e o interior. “Entendemos que não basta vir aqui e mostrar somente o que acontece em Manaus. As expressões artísticas dos municípios também são valorizadas. No Festival de Teatro do ano passado, por exemplo, levamos atores de Itacoatiara e de Maués para participar”, lembrou.
Na análise do diretor musical do FAO, maestro Luiz Fernando Malheiro, a formação de público em ópera no interior o Estado representa a quebra de paradigmas no circuito artístico amazonense. “Mais do que fazer um espetáculo para uma platéia habituada, como construímos em Manaus, vir ao interior é gratificante. A aceitação daqui traz a vontade de continuar o que fazemos”, ponderou.
Estrutura
A produção e preparo da infraestrutura do XV FAO em Iranduba demandou esforços de equipes técnicas de 300 pessoas em aproximadamente uma semana. Com apoio da prefeitura local, o trabalho foi iniciado, segundo o diretor técnico da SEC, Marcos Apolo Muniz, na segunda-feira passada, 2 de maio, pela montagem do palco de 600 metros quadrados em meio à Praça dos Três Poderes, na sede do município.
Foram disponibilizados dois mil assentos e banheiros químicos estiveram espalhados por toda a extensão da praça. Para que nenhum detalhe passasse despercebido pelos expectadores, dois telões de alta resolução estiveram posicionados em cada lado do palco. Neles, durante as falas e canções de “Soror Angélica”, houve legendagem simultânea em língua portuguesa.
A estrutura do evento também compreendeu camarins para os artistas em cena e sistema de iluminação com potência de 150 mil kW. Para o caso de eventuais emergências ao longo da noite, ambulâncias e viaturas da Polícia Militar do Amazonas e do Corpo de Bombeiros estiveram de prontidão em pontos estratégicos da praça. A ópera teve transmissão ao vivo pela TV Cultura do Amazonas.
Resumo da ópera
O enredo da ópera gira em torno da jovem Angélica, que vive em um convento em Toscana, na Itália, por volta do século XVII. A protagonista teve um filho fora do casamento, algo considerado imperdoável àquela época, motivo pelo qual sua família decide mandá-la para um convento.
Bondosa, Angélica resiste ao destino que lhe foi imposto e conquista as irmãs com seu dom em ervas e plantas medicinais. Abalada pelo desejo de rever o filho tirado de seus braços, Angélica tem o cotidiano radicalmente mudado por uma notícia fatal da Tia Princesa, o que leva a freira ao suicídio.
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