Investimentos em bens e serviços criativos – aqueles cuja matéria-prima é a criatividade – ajudaram os países em desenvolvimento a enfrentar melhor os choques da crise financeira mundial de 2008, desencadeada pela falência do banco norte-americano Lehman Brothers, afirma o Relatório de Economia Criativa de 2010, lançado pelo PNUD e pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
A chefe do Programa de Economia Criativa da UNCTAD, Edna dos Santos-Duisenberg, classificou como como “muito exitosa” a parceria com o PNUD. “Foi importante para colocar o tema indústria criativa na agenda econômica de desenvolvimento”, afirma.
Segundo ela, uma das razões para que os países em desenvolvimento tenham alcançado tamanha resistência à recessão é que, ao contrário de outros setores, como o turístico, a demanda por produtos e serviços criativos não diminuiu com a recessão.
“A população jovem é uma das grandes responsáveis por isso, pois consome muitos produtos ligados à televisão e ao cinema”, completa. Essa parcela da população também leva a indústria criativa a um território recém-descoberto e ainda pouco conhecido das massas: as redes sociais.
“O Brasil tem o maior percentual de uso de redes sociais no mundo, principalmente Orkut, Facebook, Youtube e Twitter”, lembra. Essa é a forma que os jovens encontraram para participar mais da economia criativa, divulgando novos expoentes musicais e artísticos, principalmente pela troca de arquivos digitais, complementa a autora.
As exportações de bens criativos representaram um alívio importante para a balança comercial dos países em desenvolvimento, e representaram 43% das vendas totais da indústria criativa, afirma a chefe do Programa de Economia Criativa da UNCTAD.
Somente a China responde por 21% desse volume. A diferença em relação à América Latina inteira é grande: enquanto a nação asiática exportou US$ 84,8 milhões em 2008, a região vendeu US$ 9 milhões no período.
Além disso, o comércio de bens criativos sul-sul registrou taxa de crescimento de 20% no período 2002-2008, atingindo US$ 60 bilhões. Já a venda de serviços criativos entre as nações do Sul registrou salto de US$ 7,8 bilhões em 2002 para US$ 21 bilhões em 2008.
Enquanto isso, na África, o desenvolvimento da indústria criativa está mais lento, mas há casos interessantes, como o do cinema na Nigéria, lembra Edna. “Lá, são produzidos mil filmes por ano. Embora não sejam no formato 35 mm, são parecidos com as novelas: vídeos que reproduzem histórias locais e com artistas populares, para consumo interno”, explica a chefe do Programa de Economia Criativa da UNCTAD. Quênia e Gana são outros países que seguiram o exemplo cinematográfico nigeriano e merecem destaque.
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