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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MADEIRA: OS DESAFIOS DO SUPRIMENTO



Flavio C. Geraldo

As florestas naturais em todo o mundo cobrem 30% do planeta, cerca de quatro bilhões de hectares. Apenas cinco países felizardos detêm 50% desse incalculável patrimônio, entre eles o Brasil, com área de 470 milhões de hectares, mais de 50% do território. Por muito tempo foi alimentada a ideia errônea de que as florestas eram estoque de matéria prima inesgotável, suprindo madeira para as mais diversas finalidades, entre elas, a produção de embalagens, componentes destinados à construção civil e à indústria moveleira. A enorme disponibilidade nos acomodou de tal forma que a percepção em relação às necessidades de reposições, conscientização ecológica, manutenção da diversidade, desertificação, aquecimento global e qualquer outra consequência ambiental indesejável, somente ocorreu por força de pressões de entidades de defesa do ambiente e alertas globais endossados pela comunidade científica. Satisfazíamo-nos com a extração sem pensar no cultivo.

Essa visão distorcida da realidade retardou o desenvolvimento de conhecimentos relativos à tecnologia de madeiras. A engenharia brasileira, em suas diversas modalidades, não se preocupava em dar à madeira o status de material construtivo. A madeira era então o típico acessório de construções, caixas de concreto e andaimes, ou dividia-se entre a construção da casa de campo, ou do barraco. Levou tempo até que os conceitos e necessidades relativas à conservação ambiental fossem ganhando espaço e se tornando realidade.

Segundo dados publicados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em 2007, houve uma redução da extensão de florestas naturais entre os anos de 1990 e 2005, de 134 milhões de hectares, contra um crescimento da extensão de florestas plantadas de 38 milhões de hectares, sendo que a metade está localizada nas regiões da Ásia e Pacífico. Só para compararmos, o Brasil apresenta hoje uma área reflorestada de aproximadamente 5,6 milhões de hectares.

É crescente a demanda por madeira para diversas finalidades. Consumindo ao redor de 4,6 milhões de metros cúbicos anualmente, o setor da construção civil no Brasil, dependerá, a cada dia, do abastecimento de madeiras de reflorestamentos. Isso demonstra a necessidade pela procura por soluções de engenharia que permitam a migração imediata para produção industrializada, oferecendo ao mercado a escala necessária.

Podemos destacar, por exemplo, a China, que é um país altamente dependente por importações de matéria prima base florestal e ao mesmo tempo também o maior exportador (por valores) de móveis, painéis compensados e pisos de madeira (informações FPInnovations do Canadá, em 2007). Esse país continuará a impactar substancialmente o mercado global de produtos madeireiros.

Na China as plantações de florestas têm crescido substancialmente. Até o final de 2010 é esperado que o País tenha ao redor de 60 milhões de hectares de florestas plantadas, e que ao final de 2015, em torno de 50% das suas necessidades serão supridas por essas florestas.

Tanto o Brasil como a China possuem gigantesca demanda por madeira e imensos desafios de suprimento. A solução segue a mesma direção: investimentos em plantações de florestas, direcionados à produção de produtos madeireiros e desenvolvimento da indústria de transformação, com desdobramento nos volumes de produtos com maior valor agregado.

A China tem como um dos seus principais desafios a expansão de textos normativos que possam evitar problemas de produção que não atendam aos rigores mínimos da qualidade. Na área da preservação de madeiras, a produção de formulações industriais, assim como o seu uso devem ser, obrigatoriamente, submetidos a controles ambientais e de segurança operacional, afinal, a tendência é a de se ter mercados ávidos por produtos que apresentem durabilidade e segurança adequadas.

Até algum tempo atrás o Brasil passava por momentos semelhantes ao da China, em especial quanto ao mercado de postes para eletrificação quando dos planos nacionais de eletrificação rural na década de oitenta. Enormes demandas diante de um setor de oferta não bem preparado. Parece que a configuração atual do mercado nacional aponta novamente para essa direção.

O comércio crescente de madeira existente em setores como rural, elétrico, ferroviário e mercados emergentes, como o da construção civil, merecem uma atenção quanto às fontes de matéria prima – plantios de pinus e eucalipto – até o produto final, com qualidade assegurada, respeitando as exigências legais e utilização de requisitos técnicos, tanto nas instalações quanto no produto final.

A opção desses mercados por soluções alternativas, anunciadas equivocadamente como ecológicas, tem ganhado espaços e alcançado competitividade.

A Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM) iniciará programa voltado à qualificação de fornecedores de madeira tratada, exatamente procurando apoiar os diversos mercados consumidores quanto à oferta de produtos de madeira tratada, qualificados tecnicamente e legalmente. É a hora da virada!

Flavio C. Geraldo é diretor da ABPM – Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (http://www.abpm.com.br/)

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