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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Independência e livros

 Rosely Boschini*

 
 

O primeiro livro impresso no Brasil antecede a criação da Imprensa Régia, em 1808, por D. João VI. Sua publicação data de 1747. Foi produzido na tipografia clandestina de Antônio Isidoro da Fonseca, abordando a "Relação da entrada que fez o excellentissimo, e reverendissimo senhor D. Fr. Antonio do Desterro Malheyro, Bispo do Rio de Janeiro". Nosso bibliófilo maior, José Mindlin, observa o seguinte: "Este livro raríssimo é, aparentemente, o único realmente publicado no Brasil no século XVIII. Apesar do seu texto inocente, provocou violenta reação em Portugal. Seu impressor foi preso e enviado a Lisboa e sua oficina foi apreendida. O simples fato de se poder imprimir no País já constituía perigo de sedição".

Quase três séculos depois, o Brasil produziu 386,4 milhões de livros em 2009, conforme indica a recém-divulgada Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo), para a CBL e o SNEL. Ademais, ao contrário do que ocorria na Colônia e em alguns tristes períodos do Império e da República, a produção editorial e o hábito de leitura tornaram-se os paradigmas da liberdade de expressão e pensamento conquistada por nossa sociedade. Sob essa égide, o livro consolida-se no País como um dos mais eficazes e acessíveis meios de democratização do conhecimento e da cultura (seus preços caíram mais 3,52% no ano passado).

O brasileiro percebe com clareza essa realidade. Tanto que, em plena era cibernética, 743 mil pessoas visitaram a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em agosto, nos dez dias nos quais ficou aberta ao público não-profissional. Oitenta por cento desse contingente, segundo pesquisa do Instituto Datafolha, compraram livros na feira, com um gasto médio individual de 90 reais, movimentando total próximo a 50 milhões de reais.

Os números do evento e as estatísticas da Pesquisa Fipe indicam haver boas perspectivas para o Brasil resgatar seu passivo cultural e educacional, pelo qual tem pago alto preço, em especial no tocante à sua agenda de desenvolvimento. A negligência com a educação e o descaso com a formação intelectual da população, equívocos de quase cinco séculos, vão sendo paulatinamente revertidos, com o maior acesso à escola pública e combate aos resquícios do analfabetismo.

Obviamente, ainda há muito a ser feito quanto à inclusão e melhoria da qualidade do ensino, multiplicação do número de bibliotecas públicas e disseminação do hábito de leitura. No entanto, os avanços são inegáveis nos 188 anos de nossa Independência, comemorados no 7 de setembro de 2010. Em todo esse período, o livro tem sido um dos protagonistas dos processos de transformação política e social, pois a conquista do conhecimento é essencial para credenciar pessoas e povos à plena liberdade!

 
 

*Rosely Boschini,  é a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

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