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terça-feira, 10 de abril de 2012

Lixo é uma das opções para geração de energia no País

Há muita discussão sobre prioridade de investimentos no Brasil e a cada dia surgem novas propostas

Entre as muitas propostas de alternativas no setor de produção de energia elétrica no Brasil, o Polo de Biotecnologia do Rio de Janeiro (Fundação Bio-Rio), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), abriga, há uma década, um protótipo que pode ser replicado pelo País. A UsinaVerde é um empreendimento privado com capacidade para processar 30 toneladas/dia. Mas uma planta comercial processaria 150 toneladas diárias. As informações são do pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe)/UFRJ, Luciano Basto, e do engenheiro químico da UsinaVerde, Alain C. Carelli.

O princípio da UsinaVerde é incinerar lixo a altíssimas temperaturas (1000 º C) e aproveitar todo esse calor para gerar energia. É uma usina térmica cujo combustível é o resíduo sólido para o qual se dá, após toda a separação dos recicláveis possível, um destino diferente do aterro sanitário. O processo reduz o material a 10% do seu volume, na forma de cinzas inertes.

É um processo diferente do já instalado no Aterro Bandeirantes, em São Paulo, que tem uma termelétrica que recupera o gás metano, produzido naturalmente no aterro, que funciona como biodigestor anaeróbico de matéria orgânica. O gás é consumido por um grupo de motores que gera eletricidade. Na usina de incineração, um forno eleva o lixo à alta temperatura, e, no resfriamento dos gases, temos uma máquina à vapor. No outro, o gás alimenta um motor a combustão interna.

Segundo Basto, hoje existem duas mil usinas termelétricas movidas a lixo no mundo, sendo mil a gás de aterro, 600 de incineração e cerca de 200 de biodigestão anaeróbica. As outras são plantas pequenas e médias de diferentes tecnologias.

Tradicionalmente as incineradoras só estão preocupadas em eliminar resíduos perigosos, um procedimento que custa em torno de R$ 1.500,00 por tonelada. Para o lixo urbano público essa destinação é muito cara, inviável. Uma solução é encontrar novas receitas, como a geração de energia elétrica.

"Como a partir de 2014 todo o lixo não aproveitado para a reciclagem só pode ir para o aterro sanitário, soluções como a da UsinaVerde vão se colocar viáveis", afirma, mas admite que uma térmica a lixo não vai competir no leilão. Depende de identificar consumidores de energia livres ou especiais, que, em determinados horários, pagam muito caro. O mercado energético é que vai solucionar o problema do lixo. Não é o lixo que vai resolver o problema energético. Mas tem a vantagem de adiar a construção de novas usinas para gerar energia".

Basto enfatiza que no resto do mundo se administra a escassez: "No nosso caso é a administração da abundância. Nós necessariamente temos que buscar o que é mais barato. E é muito difícil, mas necessário, precificar todas as variáveis, ambientais, sociais e operacionais".

Planejamento

São muitas as discussões em torno da produção de energia elétrica, até porque energia é essencial para o desenvolvimento do País. O governo vem investindo de forma crescente em planejamento, a ponto de criar, em 2004, uma empresa só para isso. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) presta serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético, como energia elétrica, petróleo e gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas renováveis e eficiência energética.

O professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), José Goldemberg, acredita que, para garantir a sustentabilidade energética brasileira, é preciso continuar a investir nas hidrelétricas e nos produtos de cana-de-açúcar e nas outras renováveis. "Caso contrário derivados de petróleo aumentarão sua participação na matriz tornando-a menos sustentável", pondera.

Godemberg, que ocupou cargos na área de Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente e Educação, pondera que a expansão das hidrelétricas encontra problemas na Amazônia, ao alterar os cursos dos rios, alagar áreas para formação de reservatórios e deslocar populações ribeirinhas. Na expansão do uso da cana-de-açúcar, destaca o entrave de substituir outras culturas ou provocar novos desmatamentos.

Ricardo Baitelo, coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace Brasil, destaca que o País deve investir em empreendimentos renováveis sustentáveis, principalmente na energia eólica, em sistemas solares fotovoltaicos e no aproveitamento energético de biomassa vegetal e animal disponíveis. Ele acredita que políticas de eficiência energética deveriam estar no topo da prioridade de ações governamentais no setor, tanto pelo custo quanto pela rapidez de implementação em comparação à construção de novas usinas.

Matriz limpa não pode representar acomodação
O Brasil apresenta uma matriz de geração elétrica de origem predominantemente renovável, segundo dados do Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2011, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME). A geração interna hidráulica responde por montante superior a 74% da oferta. Somando as importações, que essencialmente também são de origem renovável, pode-se afirmar que aproximadamente 86% da eletricidade no País é originada de fontes renováveis.

Depois do susto do apagão, em 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso, o País resolveu ampliar os investimentos, não só em geração, mas também em transmissão de energia. As obras são tocadas por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Nós já fizemos a lição de casa no que diz respeito aos investimentos em geração de energia elétrica com menor emissão de gases do efeito estufa", afirma o professor Edson Bazzo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coordenador de estudos sobre a utilização da palha de arroz como fonte de geração, ele, no entanto, diz que a geração nuclear "tem que estar na mesa de discussão como alternativa permanente".

O Brasil ocupa a 6ª posição no ranking mundial em investimentos em energias limpas, segundo o relatório Who´s Winning the Clean Energy Race? (Quem está vencendo a corrida pela energia limpa?). O País subiu uma posição em 2010, tendo recebido US$ 7,6 bilhões e gerado cerca de 14 GW em renováveis. Dos investimentos, 40% foram destinados para os biocombustíveis, 31% para eólica e 28% para outras fontes.

Conforme o documento, o País também ocupa a 6ª posição na previsão de crescimento nos próximos cinco anos. Destaque para a produção de etanol (36 bilhões de litros), a geração elétrica com biomassa (8 mil MW), e as pequenas centrais hidrelétricas (5 mil MW). Entre as grandes metas do País estão a geração de 1.805 MW por meio de fontes eólicas até 2012 e alta do uso de biodiesel.

O fato de o Brasil produzir eletricidade a partir de fontes limpas lhe dá vantagem competitiva mundial. "Entretanto, não podemos nos acomodar, porque estamos sujando nossa matriz energética e claramente temos oportunidades de diversificação de nossas fontes, com mais investimentos eficiência energética e em energias renováveis modernas, como a eólica, solar e solar-térmica", avalia Carlos Rittl, coordenador do programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil.

Enquanto o governo avança na construção de usinas nos rios da Amazônia - o Tapajós é a bola da vez -, a EPE atualiza seu prognóstico de demanda, que deverá saltar de 472 mil GWh, em 2011, para 736 mil GWh, em 2021. O crescimento médio anual da demanda total de eletricidade (que inclui consumidores cativos, consumidores livres e autoprodutores) será de 4,5% ao ano no período, passando de 472 mil gigawatts-hora (GWh) em 2011 para 736 mil GWh em 2021.

SAMIRA DE CASTRO

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