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segunda-feira, 26 de março de 2012

ὕδωρ (água)

O título acima, que mais parece um emoticon, é na verdade uma palavra da língua Grega Antiga. Sua transliteração é hydór, ou numa grafia mais familiar, hidro. Hidráulica, hidrografia e hidrometria são bem conhecidas na engenharia e fazem parte das 763 palavras do português que contêm este radical. Nossos antepassados pré-históricos já reconheciam a água como recurso vital há mais de 30 milênios em suas pinturas rupestres. 

Na tradição judaico-cristã, ela está presente desde a criação, quando é relatado nas escrituras sagradas que “A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.” 

Segundo antropólogos, existem muitas narrativas do “dilúvio”, em povos diferentes do mundo, e todas elas são do início dessas civilizações, há cerca de 5.000 anos. Para nós, ocidentais, a mais conhecida é a da Arca de Noé, quando Deus escolheu aniquilar a população da época, exceto Noé, seus descendentes e os animais, com uma grande inundação. 

E no cristianismo, a água tem papel de destaque na tradição do batismo. Este termo também procede do vocábulo grego “baptizo”, que significa submergir, a qual é derivada de “bapto”, mergulhar. Um exemplo claro que mostra o significado destas duas palavras é o texto do poeta Nicander, que viveu por volta de 200 a.C. É uma receita para fazer conservas de vegetais, onde ele ensina que primeiro devem ser mergulhados (bapto) em água fervente e então submersos (baptizo) e mantidos em vinagre. A primeira ação é temporária e a segunda ação é de longa duração e produz mudanças permanentes. 

A água, portanto, sempre permeou a humanidade em nossas tradições, línguas, religiões e expressões culturais. E desde que o homem começou a construir suas habitações, ele tem desenvolvido sistemas hidráulicos por onde a água flui para atender as necessidades humanas, seja para nosso consumo, higiene, transporte de dejetos, lazer, limpeza ou como componente de sistemas de apoio. 

Por conta disso, o setor imobiliário, responsável pela concepção, construção e operação dessas edificações, tem um papel fundamental para a redução do consumo desse recurso escasso e a correta disposição dos efluentes produzidos nestes ambientes. É certo que o poder público tem obrigação equivalente, desde o atendimento universal da população - captação, tratamento e distribuição de água potável - até a coleta, tratamento e disposição final dos resíduos líquidos. 

A água é elemento natural inerente à vida, mas também pode produzir morte – vide o dilúvio. Segundo a World Health Organization, estima-se que 3,4 milhões de óbitos por ano no mundo se devam a doenças de veiculação hídrica. 

Da mesma forma, os cidadãos têm grande responsabilidade quanto ao correto uso desse precioso bem natural, mas trataremos aqui apenas das muitas maneiras concretas com as quais a indústria imobiliária pode contribuir neste sentido. 

Primeiro, com a finalidade de redução do consumo da rede pública, a recomendação é utilizar, sempre que possível, águas pluviais, subterrâneas ou de reúso, em sistemas como irrigação de jardins, que não trazem riscos à saúde dos moradores. 

Entregar unidades residenciais equipadas com sistemas de medição individualizada ajuda a preservar esse recurso e promove justiça social, provocando a redução drástica do consumo de água e o valor dessa conta no orçamento familiar. 

De acordo com a publicação “Casa Eficiente, Uso Racional da Água”, que relata o resultado da pesquisa coordenada pelo professor Roberto Lamberts, da Universidade Federal de Santa Catarina, aparelhos sanitários são apontados como alguns dos responsáveis pela maior parcela do consumo de água nas edificações. Por isso é altamente recomendável a instalação de louças, metais e componentes economizadores, como vasos sanitários de acionamento seletivo. A tecnologia duo-flush, por exemplo, pode apresentar uma redução do consumo de até 75% em relação à descarga convencional. 

Outros equipamentos que os empresários podem incorporar em seus projetos são torneiras hidromecânicas ou com sensor eletrônico, chuveiros de baixa vazão e arejadores nos dois últimos itens. 

Os resultados da pesquisa também indicam que a implantação desses equipamentos na Casa Eficiente reduziram em 41% o consumo de água e a conta mensal caiu para menos da metade comparativamente a uma casa convencional. 

Nós, profissionais atuantes no mercado imobiliário, temos uma grande responsabilidade e uma oportunidade histórica de criar e operar empreendimentos que colaborem para a redução do consumo da água e sua correta disposição, bem como de estimular os moradores dos condomínios ao seu uso consciente. Mas, talvez, precisemos ser nela “baptizados” para sermos permanentemente transformarmos em agentes promotores de cidades mais sustentáveis. 

Por: Hamilton de França Leite Junior

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