A avaliação foi feita pelo americano J.B. Penn, economista-chefe da montadora americana de máquinas John Deere, em entrevista exclusiva ao Valor, em São Paulo. Penn, que ocupou o posto de subsecretário para assuntos internacionais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) durante o governo George W. Bush, afirma que os preços das commodities agrícolas devem se sustentar em níveis elevados devido à demanda dos países em desenvolvimento. "Os estoques mundiais de passagem não são excessivos. A oferta é adequada para fazer frente à demanda, mas nada além disso", afirma.
Solução satisfatória - Penn reconhece, porém, que há vulnerabilidades no horizonte e pondera que as estimativas em que se baseia "assumem que a crise da dívida europeia será resolvida de modo satisfatório". "Se a situação evoluir para uma crise de liquidez que envolva os bancos e outras instituições financeiras ao redor do mundo, então é possível que o crédito disponível para a produção agrícola e aquisição de equipamentos seja negativamente afetado, como vimos na crise de 2008", pondera o economista, que se diz "cautelosamente otimista" em relação à solução dos problemas no velho continente.
Preços - O especialista afirma que, apesar das oscilações de curto prazo, os preços das commodities devem se sustentar "por muitos anos" em níveis acima dos observados nas décadas recentes. "Em termos reais, os preços agrícolas mantiveram uma tendência de queda por 40 anos até algum momento na virada do século, quando começaram a subir. A grande questão hoje, sobre a qual se debruçam muitos analistas, é se entramos em uma nova tendência ou experimentamos algum tipo de anormalidade que vai ser revertida em algum momento. Minha opinião é que se trata de uma mudança estrutural."
Países em desenvolvimento - Ele ressalta que o crescimento econômico nos países em desenvolvimento atingiu um ponto no qual centenas de milhões de pessoas entraram no mercado consumidor, com impacto direto sobre a demanda por commodities. Na outra ponta, os produtores de alimentos enfrentam enorme dificuldade para acompanhar o aumento da demanda. "A agricultura foi negligenciada em muitos países, por muitas décadas, em favor de outros setores. Mas, à medida que os preços se mantenham altos, vamos ter mais investimentos na produção e na infraestrutura e mais atenção à pesquisa e desenvolvimento, à disseminação de novas práticas, genéticas e máquinas", aposta. Uma nova Revolução Verde? "Sim, embora não tão dramática e provavelmente mais gradual".
Revisão - O economista, um membro-chave da equipe americana que participou das negociações da Rodada Doha de liberalização comercial, acredita que os anos de prosperidade na agricultura também abrirão caminho para uma revisão na política agrícola dos países desenvolvidos e para uma expressiva redução nos subsídios aos produtores rurais. "Devido à alta dos preços, muitos dos programas que eram alvo de disputa na Organização Mundial do Comércio tornaram-se irrelevantes", afirma. Para ele, o papel da agricultura nas negociações internacionais mudou.
Redes de proteção - "No que diz respeito à parte agrícola, seria muito mais fácil chegar a um acordo hoje do que na época de lançamento da Rodada Doha." A crise, acrescenta Penn, obrigará os países ricos a repensar suas redes de proteção aos agricultores. "Por causa da dívida e da pressão dos credores, há hoje muito menos espaço físico para o pagamento de subsídios. Será preciso pensar em alguma coisa, para o caso de o cenário de prosperidade se deteriorar, mas acredito que as políticas serão mais baseadas em gerenciamento de riscos do que em subsídios", diz.
Farm Bill - Para ele, as primeiras mudanças poderão aparecer já na nova lei agrícola americana (Farm Bill), prevista para 2012. As lideranças responsáveis pelo projeto no Congresso anunciaram que vão recomendar um corte de US$ 23 bilhões, em 10 anos, no apoio aos agricultores do país.
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