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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Ministra conclama empresários da construção ao final do SBCS11 - 4o Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável

Evento aprofundou temas globais relacionados ao "Papel da Construção Sustentável no Desenvolvimento das Cidades"

A ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, lançou um desafio aos empresários, durante o SBCS11 – 4 Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável, encerrado nesta sexta-feira, 5 de agosto, no centro de convenções do Sheraton São Paulo WTC. "Coloquem na mesa um projeto de desenvolvimento de economia sustentável para a construção civil", conclamou a ministra. Para Izabella Teixeira, o meio ambiente deve fazer parte da solução. "Nesse processo de engajamento, o meio ambiente não deve ser uma restrição como foi no passado. A economia verde precisa levar em conta a erradicação da pobreza, os limites do planeta, o risco e a vulnerabilidade de um crescimento populacional que deve atingir 9 bilhões de habitantes até 2050".

A ministra lembrou a importância da Rio+20 para o setor da construção. "A Rio+20 será uma conferência das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável e não apenas sobre o meio ambiente. A economia verde será um dos temas e o debate será conduzido num contexto que envolve não só o ministério do Meio Ambiente, mas outros ministérios como o das Cidades, o setor produtivo e os consumidores para enriquecer a discussão sobre a mudança dos atuais padrões de produção e consumo”, destacou a ministra. "Apesar de ser uma conferência de chefes de estado, precisamos do engajamento político da sociedade e de vocês, empresários", salientou Izabella Teixeira.

Ao final do evento, que reuniu mais de 500 pessoas durante dois dias, o CBCS lembrou que, entre os dias 30 de maio e 1 de junho de 2012 será realizada, em São Paulo, a reunião preparatória da Unep, o programa ambiental da Nações Unidas (United Nations Environment Programme), para a conferência do SBCI, o Sustainable Buildings and Climate Initiative.

Na solenidade de abertura, estiveram presentes representantes do governo estadual e municipal, de entidades do setor, empresas apoiadoras e parceiras do evento: Odebrecht, Holcim, Saint-Gobain Weber Quartzolit, Cyrela, IABr – Instituto Aço Brasil, Sabesp e Caixa Econômica Federal. Para o presidente do conselho deliberativo do CBCS, Marcelo Takaoka, o simpósio é importante "para que os empresários aceitem grandes desafios de aumentar a felicidade no contexto urbano".

A mesa foi composta pelo ambientalista Fabio Feldmann, conselheiro do CBCS; pelo pesquisa e consultor da Rocky Mountain Institute (RMI), organização voltada para soluções com tecnologias limpas para as áreas de energia, construção civil e transportes. Hutchinson lançou algumas provocações para que os participantes pudessem refletir sobre o tema da economia verde. "Investimento em eficiência energética faz parte da economia verde", declarou Hutchinson. Ele mostrou como os projetos americanos de retrofit envolvem os agentes com bônus e metas com altos graus de exigência. "Mas o principal é que haja comunicação e compreensão por parte de todos os envolvidos, inclusive os futuros usuários que tendem a desprezar as medidas de redução de consumo de energia implantadas nas edificações."

O painel sobre integração entre projetos de grande escala e o espaço urbano, moderado pelo professor Roberto Lamberts, supervisor do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina, apresentou outra série de palestras. Aberta com o professor da Universidade Nacional de Ciência e Tecnologia de Taiwan, Cheng-Li Cheng, mostrou como os taiwaneses lidam com os riscos impostos pelos ciclos climáticos da ilha de Taiwan.

"Todo o gerenciamento de reuso, reciclagem e contenção da água segue o princípio de retorno à natureza. Precisamos ter uma atitude mais humilde", disse Cheng. Esse retorno à natureza orienta os projetos de reformulação urbana da cidade de Taipei. Cheng mostrou ainda que os desastres climáticos ocorrem por culpa do crescimento desordenado, provocando deslizamento de encostas, rompimento de barragens e inundações.

O painel seguiu com a professora e pesquisadora da Universidade de Atenas e do Conselho Europeu sobre Coberturas Frias, Afrodite Synnefa, que revelou as novidades no setor das coberturas que melhoram a qualidade térmica das edificações e das cidades. Ela comentou ainda o uso de materiais com cores frias em pavimentações. Perguntada sobre os problemas com excesso de luminosidade, Synnefa respondeu que os bons projetos resolvem qualquer tipo de desconforto para motoristas e pilotos de helicópteros.

O CBCS divulgou um posicionamento para recomendar que, antes de qualquer política pública, seja feita uma análise das alternativas técnicas disponíveis. "Soluções precipitadas podem causar prejuízos ambientais e econômicos para a cidade e a população", conclui o documento.

Para o professor da Universidade de Columbia, de Nova York, Trent Lethco, urbanista associado ao Arup, preparou um discurso com soluções voltadas para a cidade de São Paulo. "Existem soluções para São Paulo", disse Lethco, e lembrou que muitos dos atuais problemas já foram enfrentados por metrópoles americanas.

Mostrando o caso de Manhattan, em Nova York, Lethco lembrou que os pocket parks e outras reformulações criam pontos de interesse capazes de agregar significado às comunidades. Redes de caminhos para pedestres, ciclovias e recuperação de espaços como minhocões abrem espaços de ocupação urbana sem emissão de CO2. Mais: gestão de calçadas, gerenciamento de caminhões de entrega de cargas, faixas exclusivas para carros com mais de um ocupante e patrulhas de remoção de acidentes podem melhorar a mobilidade de qualquer centro urbano.

Inovação responsável

No painel, mediado pelo professor de materiais e componentes de Construção Civil da Escola Politécnica, o pró-reitor Vahan Agopyan, o simpósio lançou o tema da inovação no contexto da sustentabilidade. Sobre isso, o professor da Escola Politécnica da USP e coordenador do comitê técnico de Materiais do CBCS, Vanderley John, abordou novas aplicações de materiais existentes. Vanderley John apresentou casos como o do concreto fotocatalítico, materiais com mudança de fase e fachadas com energia zero.

No mesmo painel, o pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Sergio Angulo, discutiu as dificuldades das empresas e dos fabricantes de materiais no atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos. Angulo apontou alguns caminhos como a reciclagem de baixo custo no próprio canteiro e o uso do RCD (resíduos de construção e demolição) em aplicações como pavimentação. Para o pesquisador, ainda existem alguns empecilhos que o debate e a regulamentação precisam encaminhar. Ele deu exemplos: madeira com biocida, gesso misturado com concreto e argamassa pigmentada.

Qualidade de vida

Para discutir a qualidade de vida no espaço urbano, o painel moderado por Alex Abiko – professor do departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da USP e coordenador do Comitê Técnico Urbano do CBCS –, trouxe a participação do professor da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Saldiva, para comentar o impacto da poluição atmosférica na saúde e na qualidade de vida da população.  Para Saldiva, "a ocupação irregular do solo gera vários problemas como lixo, enchentes e poluição".

Ele contemplou as medidas que melhoram a qualidade do ar em escala local e ponderou as políticas de mitigação das fontes de gases poluentes, a maioria advindas de veículos movidos a combustível fóssil. "A política ambiental precisa deixar de ser permissiva nas cidades", concluiu.

O professor de Engenharia Ambiental da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, Tadeu Fabrício Malheiros, mostrou como calcular os indicadores que relacionam as atividades humanas e o consumo de recursos naturais. A professora da London School of Economics and Political Science e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Nancy das Graças Cardia, abordou a gestão da segurança nas metrópoles e como o desenho das ruas, rotas de escape e trânsito com velocidade mais baixa contribuem para a segurança.

A visão das empresas

Nas palestras empresariais, do dia 4 de agosto, Luiz Otávio Maia Cruz, gerente geral de Produtos, Serviços e Novos Negócios da Holcim, falou sobre o microcimento em obras de recuperação estrutural. Segundo ele, a nova visão é integrar ações de capacitação de mão de obra, gestão adequada dos resíduos, novas tecnologias de microcimento alinhadas às tecnologias para a sustentabilidade. “Um exemplo disso é a nossa tecnologia de microcimentos para a recuperação de vias que possibilita o reparo em seis horas sem geração de resíduos” destacou.

Paul Houang, diretor técnico da Saint-Gobain Weber Quartzolit,abordou a análise do ciclo de vida da mistura de aglomerante e agregados. A empresa detém métricas para reduzir o impacto ambiental dos produtos. “Um dos resultados dessa iniciativa é a existência de produtos que só precisam acrescentar água para serem utilizados. “Temos compromisso para reduzir em até 6% a emissão de CO2 no que diz respeito à utilização de água e energia em nossos processos produtivos”, ressaltou Houang.

Guilherme Corrêa Abreu, presidente do comitê de Meio Ambiente do IABr – Instituto do Aço Brasil, apresentou as iniciativas sustentáveis do  setor. Uma delas é a utilização de escória líquida que pode ser aplicada em base para asfalto e na fabricação de tijolos. O aço é um indutor da sustentabilidade e está presente em quase todos os processos de economia de água e reciclagem.

No setor de fornecimento de água, Paulo Massato Yoshimoto, diretor metropolitano da Sabesp, analisou o ciclo de vida da água como insumo. Paulo alertou que estamos em um ponto crítico de abastecimento de água no Estado de São Paulo e as ações para o incentivo ao uso racional da água têm sido intensificadas nas cidades. “Atuamos com água reutilizada para a limpeza de ruas e para o fornecimento a indústrias. Um exemplo é o esgoto gerado na região do ABC, em São Paulo, que será tratado para abastecer processos produtivos do pólo petroquímico de Cubatão (SP). Na capital, córregos estão sendo despoluídos em parceria com a prefeitura. Até 2018, há previsão para que 100% do esgoto seja tratado na capital paulista com investimentos de R$ 12 bilhões.

Outros assuntos como a sustentabilidade na construção de agências bancárias, com Martiniano Ribeiro Muniz, e o selo Casa Azul, com Mara Luísa Alvim Motta, ambos da Caixa Econômica Federal, foram abordados, durante as palestras empresariais.  Martiniano Ribeiro Muniz informou que a Caixa possui 25 agências que funcionam com menor impacto ambiental priorizando a economia de água e energia, coleta seletiva, acesso para deficientes, entre outras iniciativas. Mara Luísa Alvim Motta enfatizou que o selo Caixa Azul agrega valor ao empreendimento além de incentivar a introdução de práticas ambientais. “Com 53 critérios de avaliação, as exigências do selo levam em consideração a qualidade urbana, projeto e conforto do usuário, eficiência energética, gestão da água, conservação de recursos naturais e práticas sociais. Mara Luísa citou o empreendimento habitacional Bonelli Joinville ,que recebeu o selo categoria ouro. Estão em análise  para a conquista do selo, empreendimentos das prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Para discutir a gestão de resíduos em canteiros de obras, foi convidado Alexandre Britez, gerente de Qualidade e Desenvolvimento Tecnológico da Cyrela. Ele destacou que é possível construir com geração zero de resíduo, mas isso requer investimentos. “Em nossas obras, uma das ações é a doação de madeira, plásticos e papéis. Para incentivar ainda mais a destinação correta de resíduos de obras, precisamos promover ainda mais a cadeia de reciclagem contribuindo para o menor impacto ambiental e geração de empregos”, alerta Alexandre.

Antonio Cardilli, da construtora Odebrecht, responsável pela administração e finanças da usina de Santo Antônio, em Rondônia, relatou a experiência da transformação social no entorno das obras de infraestrutura. O programa de qualificação profissional Acreditar foi criado em Porto Velho, em 2008, com o objetivo de formar mão de obra para atuação na obra da Usina de Santo Antônio, na cidade. “O resultado superou as expectativas e hoje cerca de 80% dos cerca de 18 mil trabalhadores que atuam na usina construída pela Odebrecht no rio Madeira são do Estado de Rondônia. Com acesso à educação, esses trabalhadores deixaram de ser analfabetos”,  explica Cardilli.

Lançamento de livro

No encerramento do dia, foi lançado o livro Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil, da editora Blucher. De autoria dos professores Vahan Agopyan e Vanderley John, ambos da Escola Politécnica da USP e destacadas lideranças setoriais, a publicação apresenta uma visão inovadora, ao discutir o desenvolvimento sustentável na construção civil sob o ponto de vista da cadeia produtiva.

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