Plantas de áreas da Amazônia têm sido testadas na produção de biocombustíveis. Embrapa tem pesquisas espécies como o babaçu e o buriti
A qualidade do produto nas diversas etapas da cadeia produtiva do biodiesel, as normas de regulamentação do uso desse biocombustível, alguns problemas observados na utilização e as pesquisas em andamento, foram os temas centrais da audiência pública ocorrida semana passada na Câmara dos Deputados. O debate teve como objetivo discutir as políticas do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) e foi realizado por requerimento do deputado Cláudio Cajado (DEM-BA), na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
Cajado destacou que o Programa é uma política energética do País e que os problemas que vão surgindo devem ser debatidos com a sociedade. “Embora o Programa tenha pouco tempo, já estamos usando a mistura de 5% de biodiesel no diesel. Apesar desta mistura ter sido cuidadosamente testada, a prática mostra o alto grau de sensibilidade à contaminação e à degradação dos motores em relação ao diesel puro”, chamou a atenção o Deputado. Ele ressaltou que o biodiesel tem suas vantagens, por ser biodegradável, não tóxico e praticamente livre de enxofre e aromáticos, sendo por isso considerado um combustível ecológico, devido o baixíssimo grau poluidor.
Participaram da audiência o presidente da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), Juan Diego Ferrés, o pesquisador da Embrapa Agroenergia, José Manuel Cabral de Sousa Dias, o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes e representante do Sindicato Nacional TRR – Sindicato Nacional Transportador, Revendedor, Retalhista de Combustíveis, Paulo Miranda Soares, e a superintendente de Biocombustíveis e de Qualidade de Produtos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Rosângela Moreira de Araújo.
O presidente da Ubrabio apresentou dados de estudo realizados pela Fundação Getúlio Vargas referente à contribuição do biodiesel ao desenvolvimento brasileiro, desde a criação em 2005 até 2010. Foram gerados 1.300 milhão empregos, 63 indústrias instaladas, que em 2011, o número já é de 67, com 60 vezes a capacidade de produção desde a implantação.
Em relação aos impactos ambientais, redução de 57% das emissões de gás carbônico, à saúde pública, com a utilização do biodiesel, foram evitadas cerca de 13 mil internações e óbitos. Quanto aos recursos, foram investidos quatro bilhões de dólares. O Brasil deixou de gastar neste período cerca de 3 bilhões de dólares graças ao avanço na produção de biodiesel.
Setor gera 531 mil empregos diretos
De acordo com o estudo apresentado, existe a perspectiva de 20% da mistura de biodiesel ao diesel (B20) em 2020. Neste data, cerca de 531 mil empregados serão gerados diretamente. Outros benefícios de grande importância social e ambiental serão alcançados, como por exemplo, a redução em 12% das emissões de gás carbono, a diminuição de 77 mil internações hospitalares e de 4.900 de óbitos por ano. Haverá modificação na composição das matérias-primas, pois 70% será oriunda da soja, 23% de algodão e o restante de outras.
Ferrés salientou que as ações em conjunto entre a Embrapa, os Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Desenvolvimento Agrário, a ANP e agricultores colaboram para o crescimento do Programa.
Citou como exemplos a canola, para a qual a publicação do zoneamento fez crescer, em dois anos, a área plantada de 30 para 100 mil.“Os problemas observados com a utilização do biodiesel são isolados”, reforçou Ferrés, destacando que existem órgãos no Brasil responsáveis pela fiscalização, como é o caso da Petrobrás e da ANP. “A qualidade não pode ser obstáculo para o crescimento do Programa, com todos os êxitos que já trouxe para a sociedade, superando as expectativas iniciais que todos tínhamos em 2005”, apontou.
O representante da Embrapa Agroenergia, José Manuel Cabral, iniciou sua apresentação reforçando que a partir do lançamento do Plano Nacional de Agroenergia 2006-2011 (www.cnpae.embrapa.br) várias pesquisas com matérias-primas e processos para produção de biodiesel foram iniciadas. “O País é um dos poucos no mundo que tem uma gama de opções de matérias-primas.
Em um horizonte de 5 anos teremos resultados em destaque com o pinhão-manso, e em 10 anos, os destaques serão as palmeiras nativas, como macaúba, babaçu, inajá e tucumã, que terão grande importância na regionalização da produção do biodiesel.”
Soares explicou que nos depósitos e bombas de combustível de postos e em alguns tanques de diesel de caminhões está ocorrendo a formação de uma “borra” que pode prejudicar o desempenho e danificar algumas peças dos motores. Atribuiu a formação desses resíduos ao contato do biodiesel com peças de cobre que ainda existem nos tanques e bombas dos postos de abastecimento e sugeriu a realização de pesquisas para encontrar aditivos que possam evitar o aparecimento dessa borra. “Enquanto esses problemas não forem solucionados, não se deve pensar em aumentar a proporção do biodiesel no óleo diesel”, ponderou.
O presidente da Fe combustíveis também solicitou modificação nos procedimentos de fiscalização estabelecidos pela ANP, principalmente nas autuações dadas devido a alterações no aspecto e na cor do diesel nas bombas e no teor do biodiesel no combustível. Explicou que os postos de abastecimento recebem o combustível já misturado das distribuidoras.
“Não há nenhum equipamento que permita aferir a proporção da mistura de biodiesel quando o transportador descarrega o combustível no reservatório. E quando a fiscalização encontra diesel com teores diferentes dos especificados, apenas o posto de abastecimento é multado”, concluiu.
DANIELA COLLARES
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