Maior parte dos produtos não é mais exportada in natura, a preços baixos. É o que mostrará uma conferência durante a 63ª Reunião Anual da SBPC.
Há uma mudança em curso na cadeia produtiva de carne e grãos na região Centro-Oeste do Brasil, que inclui o cerrado. A maior parte das colheitas não é mais exportada in natura, a preços baixos. Os agricultores agregam valor aos grãos, transformando-os em ração para suínos e aves ou em produtos industrializados, que geram mais divisas ao País quando exportados. Esse será o tema central da conferência Novas fronteiras do capital no cerrado: cadeia carne/grão, que será proferida pela a geógrafa Júlia Adão Bernardes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), durante a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento será realizado de 10 a 15 de julho de 2011, na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia (GO).
As questões que serão apresentadas por Júlia em sua conferência vêm sendo estudadas por ela desde 1994. Foi a partir de então que ela começou a pesquisar o desenvolvimento e a evolução das cadeias produtivas na região Centro-Oeste do Brasil. A geógrafa explica que seu trabalho envolve um conjunto de pesquisas sobre as fronteiras da técnica e do capital no cerrado brasileiro, tendo o estado de Mato Grosso como laboratório. “Os estudos são fundamentados em pesquisas de campo, que se estenderam a todas as áreas de cerrado do País, englobando as diversas atividades em suas diferentes fases”, explica. “Nos anos 90, por exemplo, me detive na fase da expansão da agricultura moderna (soja, milho, algodão). Na década seguinte, investiguei a expansão da cadeia carne/grãos e atualmente estudo a dos biocombustíveis.”
Segundo Júlia, em todas essas fases de suas pesquisas ela destaca o potencial e os condicionantes (obstáculos ao desenvolvimento das cadeias produtivas) do cerrado. “Na minha conferência na reunião da SBPC, vou tratar mais detalhadamente do novo movimento de expansão da fronteira de grãos e carnes no cerrado brasileiro”, adianta. “Nesse movimento, o Centro-Oeste emerge com seu imenso cenário de formação de um novo parque industrial, baseado em novas tecnologias, numa região que é fundamental para o projeto de país, assim como para a dinâmica do mercado mundial.”
No caso específico da cadeia carne/grãos, a geógrafa diz que a fronteira mais recente se encontra no trecho Mato-Grossense da BR-163. A do biodiesel, por sua vez, está hoje em Mato Grosso, e a do etanol, em Goiás. Júlia explica que a cadeia carne/grãos se caracteriza hoje pela diversificação da produção, por meio do aproveitamento da maior parte da safra de grãos, principalmente de soja e milho, na própria região. Mas uma parcela, sem valor agregado, continua sendo exportada.
O desenvolvimento das novas cadeias produtivas significa investimentos em infraestrutura, intensificação do processo de industrialização e maior dinamismo da economia regional. De qualquer forma, também há problemas nesse novo cenário. Segundo Júlia, estamos frente a uma nova interpretação de fronteira. A adoção de novas técnicas de produção exige a ocupação de novos territórios, o que poderá causar problemas sociais e ambientais. São questões que também serão abordadas na sua conferência na reunião da SBPC.
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