Não há dúvidas de que a principal saída para equacionar o impasse entre desenvolvimento e preservação ambiental seja a educação. Reduzir, reutilizar, reciclar e repensar são ações que devem ser incentivadas desde a infância. Já temos bons exemplos de instituições educadoras que fazem a sua parte.
"O lixo está no foco das nossas atenções", avalia Mayra Paroni, coordenadora do Castanheiras Sustentável, da Escola Castanheiras, em Tamboré, projeto que teve como embrião um extenso relatório promovido pela empresa Menos Lixo, em 2008. A meta era fazer uma análise detalhada de toda a produção de lixo da escola e, a partir desses dados, fornecer recomendações para minimizar e destinar responsavelmente esses resíduos. Muitas das frentes que começaram a ser trabalhadas a partir de então, como coleta seletiva, substituição de todos os descartáveis do restaurante, troca paulatina do uso de pilhas normais por recarregáveis, coleta de lixo orgânico para composteira, continuam e ganham cada vez mais força. "Para além de ter o tema da sustentabilidade no currículo dos alunos, acreditamos que ele deve estar articulado com a gestão escolar", diz Mayra, que não mede esforços para criar soluções que minimizem a produção de lixo, notadamente nos eventos da escola. "Às vezes são soluções simples que fazem toda a diferença".
Um dos desafios apontados por ela está na formação, não só dos professores, mas de toda a equipe escolar. "Em se tratando de lixo, é fundamental que o pessoal da manutenção esteja qualificado para não comprometer o projeto. É um trabalho permanente". Neste ano, a coordenadora realizou um vídeo documentário para apresentar a todo corpo docente e discente. As imagens foram captadas na cooperativa Avemare, responsável pela destinação do lixo reciclado da escola. "A intenção é que, ao compreender que fim leva o lixo, a coleta seletiva adquira força e significado para todos".
Outra forma de trabalho é o estudo do lixo. Os alunos de 1º ano do fundamental passam uma semana estudando o lixo produzido no recreio, para avaliarem a quantidade e as maneiras de diminuir essa produção. "No princípio eles acham que é pouco lixo, mas depois, ao se darem conta de que pode ser multiplicado por todos os níveis, na cidade, no país e no mundo, começam a dar a devida atenção", afirma a coordenadora. Novas formas retornáveis de embalar o lanche viram solução.
Na Escola Viva, na Vila Olímpia, a questão ambiental é prioritária e a instituição nasceu capitaneada por essa proposta, em 1991. As crianças estão em contato constante com a natureza presente no próprio espaço escolar, como chão de terra batida, animais, árvores, horta, e o projeto pedagógico prevê o uso desse espaço. "O convívio com bichos e plantas ajuda a provocar conflitos, a exercitar valores em situações concretas, a discutir a relação com o outro e a respeitar a vida", diz Sônia Marina Muhringer, bióloga e coordenadora de educação ambiental da Escola Viva.
A problemática ambiental está tão profundamente ligada ao projeto político pedagógico da escola que, em 2000, resolveu construir um prédio ecologicamente correto: as telhas utilizadas são de embalagem longa-vida reciclada; os canos são de cobre; a captação de água de chuva está sendo utilizada nas descargas dos banheiros e outros detalhes, como tijolos de solo-cimento (feito com a terra do local); bancos de jardim feitos de resina vegetal; impermeabilizante e isolante termo-acústico à base de óleo de mamona.
O lixo sempre foi umas das grandes preocupações da instituição, portanto, todo o processo de produção e destinação de resíduos está na agenda de suas premências. "É preciso verificar sempre se há falhas no processo", assinala. Nesse sentido, a gestão da escola está coesa à questão ambiental.
A educadora explica que desde a educação infantil a pauta é trabalhada em sala de aula. O projeto desenvolvido com alunos de três e quatro anos, através de sucatas, tem como eixos norteadores a redução do desperdício, a coleta seletiva, o reaproveitamento de materiais e a reciclagem. Os alunos são convidados a trazer sucatas de casa e realizam uma profunda pesquisa, por meio do lúdico, sobre o lixo, usos e costumes das famílias, bem como sobre especificidades dos materiais residuais (papel, plástico etc). Os pais são convidados a participar de atividades aos sábados com enfoque na reutilização: canto do plantio (vasos com latas); canto da papelaria (produtos feitos de sucata); canto da música (construção de instrumentos a partir da sucata).
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