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quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Cientista brasileira: conhecemos pouco mais de 1% dos oceanos
A Elipidia belyaevi foi uma das espécies descobertas nas no frio e profundidade das águas do ártico (no caso) e antártico. Segundo pesquisadora, essas regiões são mais ricas em diversidade de espécies que certas áreas tropicais
De todos os lugares do nosso planeta, um dos mais desconhecidos é a região oceânica que, ironicamente, cobre a maior parte da superfície terrestre. Segundo a pesquisadora brasileira Lúcia Campos, bióloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nós conhecemos pouco mais de 1% do que existe nos nossos mares. Lúcia participou na última segunda-feira da apresentação dos resultados dos 10 anos de trabalho do Censo da Vida Marinha, em Londres. Para a brasileira, que apresentou um dos paineis do evento, outro aspecto importante levantado pela gigantesca pesquisa - que envolveu cerca de 2,7 mil cientistas de todo o mundo - é a surpreendente biodiversidade nos polos, em especial na Antártida, e em águas profundas, mais rica que em algumas florestas tropicais.
Lúcia lembra que o planeta é 80% coberto por mar, e, destes, a maior parte tem 3 mil m de profundidade. "Da área oceânica, a gente conhece pouquíssimo. Pouco mais de 1%, agora com o censo. E tem muita coisa para ser descoberta, muitas montanhas submarinas, muitos tipos de ambientes diferentes. A diversidade que existe no oceano é realmente muito grande", disse Lúcia Campos.
Em seus 10 anos de trabalhos, o Censo da Vida Marinha mapeou cerca de 230 mil espécies - sendo cerca de 1,2 mil novas, que foram descobertas pelo censo. São mais de 80 nações envolvidas nas pesquisas, que revelam a diversidade, a abundância e a distribuição da vida nos oceanos.
Os resultados apresentados pelo Censo de Vida Marinha irão servir como base científica, por exemplo, para o desenvolvimento sustentável da industria pesqueira, a conservação da diversidade, a redução da poluição e a possível recuperação de habitats.
Diversidade nas profundezas
Segundo Lúcia Campos, acreditava-se que, em águas profundas haveria menos diversidade de seres vivos, por causa do escuro e do frio. "Isso não é verdade, pelo contrário! Essas áreas podem ser muito mais ricas do que florestas tropicais", afirma. As regiões tropicais sempre foram aquelas onde se encontrava a maior gama de seres.
Ao exemplificar a riqueza da região, Lúcia Campos citou uma expedição alemã que visitou uma das áreas nunca exploradas e coletou mais de 600 espécies de animais da ordem isopoda, crustáceos que possuem o corpo achatado dorsoventralmente. Destas, em torno de 500 eram novas para a ciência.
Tamanha diversidade foi recebida com surpresa pela comunidade científica, e, segundo Lúcia, o sul sai ganhando em relação ao polo norte. "A região antártica tem uma diversidade muito grande de organismos, mais do que se esperava anteriormente.
Os pesquisadores também descobriram uma ligação entre a Antártida e a América do Sul - mais especificamente o Brasil. "Identificamos algumas espécies que são compartilhadas entre essas duas regiões. Estamos partindo agora para um estudo mais aprofundado, usando ferramentas moleculares para saber se realmente estamos falando das mesmas espécies, e quais as distinções mais sutis que podem existir entre elas. Mas algumas são realmente compartilhadas", disse a pesquisadora, que também afirma que o número de espécies marinhas identificadas até hoje é subestimado.
"Chegamos a fazer um levantamento do número de espécies marinhas brasileiras. Dá mais de 9 mil espécies, mas ainda é um número subestimado. A gente conhece muito pouco das zonas profundas brasileiras, e tem algumas regiões melhor estudadas, como a bacia de Campos. Foram feitas algumas prospecções mais profundas, das ilhas oceânicas também, mas tem muita coisa ainda sendo descrita", disse.
Participação brasileira
O Brasil conta com cerca de 10 pesquisadores em diferentes projetos, como o Censo de Margens Continentais e o desenvolvimento do Sistema de Informação Biogeográfico do Oceano (Obis, na sigla em inglês), um banco de dados que já conta com 16 milhões de registros. Mesmo revelando novas espécies em todos os grupos de trabalho, o Censo ainda terá muito trabalho pela frente
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